Player: Fabrízio
Nome completo: Jack Lynn Lewis
Data de Nascimento: 11 de Novembro de 1993
Local de Nascimento: Londres, Reino Unido
Idiomas: Inglês
Sexualidade: Heterossexual
Relacionamento: Solteiro
Last night I dreamt
That somebody loved me
No hope, no harm
Just another false alarm
Jack lembra apenas dos olhos azuis da mãe, apesar de às vezes achar que é só uma criação da sua mente para algo que realmente nunca lembrou. Pois além disso, tudo o que lembra é sofrimento.
Seu pai tinha uma floricultura na frente da igreja St Margaret of Antioch. Vendia coroas em dias de funerais e enfeites em dias de casamento. Moravam num pequeno apartamento no andar superior. A vida de Jack era resumida em escola e ajudar o pai na loja. Não podia sair com amigos, não podia brincar. Era trabalhar até dormir, acordar, estudar e voltar a trabalhar. Seu pai não gostava das flores, ele tinha herdado a loja do pai dele e seguia como obrigação. Era tudo trabalho. Mas Jack gostava. Jack via a beleza das pétalas, olhar e sentir seus perfumes era um alívio na sua vida rotineira.
A mãe de Jack morrera quando tinha dois anos. Ao cruzar a rua entre a loja e a igreja levando um buquê correndo para uma noiva esquecida, um táxi a atropelou. Jack não lembra nada disso, embora sonhe com a mãe ali caída no chão, com os olhos azuis aberto e fixos, olhando para ele.
Seu pai, se não era, tornou-se um homem amargurado, infeliz, furioso com a própria existência. Preso num trabalho que odiava, que era tudo que conhecia; preso numa solidão após perder a esposa justamente naquilo que fazia para viver. Ele nunca descontou em bebidas, ele nunca tomou remédios, ele só descontava sua raiva em uma única fonte: Jack.
Now I know how Joan of Arc felt
As the flames rose to her roman nose
And her hearing aid started to melt
Talvez a única coisa que Jack tinha comido até então era aquilo que era servido no refeitório da escola. Ele lembra do gosto da canela no purê de maçã, e gostava de batatas fritas. Em casa era sempre Macaroni Cheese descongelado, todo dia, desde que se lembra. Um dia ouviu um colega de classe dizer que estava animado em chegar em casa, porque teria frango frito e purê de batata, e quando Jack chegou e viu aquele macarrão alaranjado, sentiu raiva e jogou o prato no chão.
Furioso, o pai pegou o filho pelo cabelo e o levou até a estufa nos fundos da casa, prendeu-o ali. "Ingrato", berrava o pai. Jack ficou lá por duas semanas. Nunca soube o que pai contara quando a assistente social da escola ligou perguntando porque o aluno faltava tanto. A água era da mangueira que regava as plantas. A comida era as próprias flores. As pétalas de tulipas não eram tão ruins afinal. Jack tinha 10 anos e esse castigo se repetiria quatro vezes mais, a última duraria um mês. Jack nunca apanhou seriamente do pai. Ele o prendia. Ele o fazia viver naquele inferno verde.
Mas um dia o inferno acabou. Seu pai morreu.
I am the son and heir
Oh, of nothing in particular
Desta morte, Jack lembrava. Um dia, preparando um arranjo, seu pai espetou o dedo num espinho de rosa. Aquilo o enfureceu. Ele gritou. Chutou um vaso. Babou. Espumou. Caiu no chão segurando o braço em agonia. Tremeu. Morreu. Jack ficou apenas olhando.
O serviço social ficou com Jack por três meses, o garoto não tinha avós ou tios, mas uma assistente descobriu que ele tinha uma tia-avó de lado materno. Uma senhora rica que vivia na cidade de St Albans, no condado de Hertfordshire. Morava numa grande mansão datada do século XVII, sozinha com apenas três criados. Seus antepassados foram lordes e ela acreditava que ainda era da nobreza.
Tratou bem Jack, e ele começou a experimentar coisas que nunca antes vivera. Estudou numa boa escola. Comia algo diferente em cada jantar, do frango frito com purê à sushi e paella. Não trabalhava mais. Suas tardes tinham televisão, videogame, livros, cinema, música, passeios com amigos, piadas e risadas. Nunca mais fora castigado, por nada.
Todo dia quando entrava na mansão e via aquele quadro enorme de Santa Dorothy com a cesta de flores na mão, sorria. A morte do pai foi a melhor coisa que lhe acontecera.
Ice water for blood
With neither heart or spine
And then just
To pass time; let us go and rob the blind.
Jack tinha 17 anos quando conheceu Jeane. Ela parecia uma pluméria, branca, suave, límpida, com longos cabelos loiros de um amarelo intenso. Os bengali associam a flor à morte. Os indianos usam em seus casamentos. Na Malásia, acreditam que a pluméria exala o mesmo perfume dos vampiros. No Sri Lanka é a flor que as donzelas celestiais carregam. Nos poemas em swahili, a pluméria sempre é rimada com amor.
Jeane era assim, boa e má, dependendo de quem a via.
A garota apresentou para Jack o gosto forte do rum, heavy metal e botas coturnos. Jeane e Jack beijaram a primeira vez no cinema enquanto assistiam uma reexibição de Eduardo Mãos de Tesoura. Fizeram amor no quarto da tia-avó enquanto ela viajava para a Holanda, ao cheiro de incenso, ao som de The Cure e ao sabor de um caro vinho retirada da adega da mansão. Correram da polícia rindo após picharem um muro com os dizeres "O Caos é a Ordem". O anel de compromisso foi feito com vinhas entrelaçadas, após correrem nus por um bosque e mergulharem num pequeno lago numa noite de verão.
Jeane foi a terceira morte que conheceu.
Um câncer rápido e violento. Uma quimioterapia que fizera suas pétalas loiras caírem. Ela murchou diante dele, dia à dia. Ela não era mais pluméria, agora era um dente-de-leão levada ao vento.
One november
Spawned a monster
In the shape of this child
Who must remain
A hostage to kindness
Terrivelmente, a quarta morte não demoraria também para acontecer. Um dia a tia-avó foi dormir e nunca mais acordou. Nunca souberam do que ela realmente morreu. "Era idosa, coitada", disseram alguns. A surpresa é que Jack era o único herdeiro e tudo ficou para ele escrito num testamento. Aquela senhora o acolheu e deu-lhe uma boa vida, e ele nunca teve oportunidade de realmente agradecer.
Ela não tinha nada que gerasse renda, mas tinha muitas propriedades, milhares de acres, objetos de artes e muito dinheiro no banco. Não seriam eternos, mas Jack viveria bem.
Voltou para Londres, comprou um apartamento luxuoso e planejou seu futuro. Um dia Jeane contara que pretendia estudar na GREKI, um instituto educacional universitário. Pareceu um bom plano para ele. Aliás, meio um plano, pois um desejo surgia no seu coração, um desejo de mascarar as dores, um deseja de plantar sua própria beleza, um desejo de ver florescer aquilo tudo que perdeu, um desejo de ser novamente um floricultor.
Um floricultor diferente.
- FAMÍLIA E RELACIONAMENTOS
Jack não tem ninguém. Todos que conheceu morreram.
O cabelo desgrenhado, deixando ao vento, é a única coisa fora de ordem num resto todo planejado. A barba é aparada diariamente como uma poda sistemática. Suas roupas escolhidas como vasos perfeitos. Caros e luxuosos.
O enfeito da lapela é o principal: pequenas flores reais escolhidas à dedo. A poppy no dia certo. A orquidia azul numa noite estrelada. Um pequeno girassol nos dias claros.
Assim como os perfumes que variam com o The One da Dolce & Gabana, Acqua Di Giò da Armani, Le Male do Jean Paul Gaultier, ou Kouros da Yves Saint Lourent.
Jack passa sempre uma mensagem: ele é a mensagem.
Jack esconde quem é. Jack inventou um personagem. Este personagem é simpático, feliz, galanteador, refinado e inteligente. Ele recita Shakespeare e Sex Pistols. Vota no Partido Trabalhista e gosta do Tony Blair. Admira a realeza e diz que seu nobre preferido foi Henrique VI. Está aprendendo a pintar e adora filmes do Almodóvar. É vegetariano e ajuda uma ONG de apoio aos imigrantes.
O verdadeiro Jack é diferente. É quieto. Não liga a luz de casa quando chega e fica sempre no escuro. As "Quarto Estações" de Vivaldi são a única música que toca em sua casa, mas baixinho. Livros de botânicas e anatomia se misturam em pilhas ao redor de sua cama. Sempre enche dois cálices de vinho, mas só bebe um. Toma banho escaldante de uma hora com o rosto virado para o chuveiro.
A única particularidade que transborda entre os dois Jack é o amor às flores. Conhece tudo sobre elas, fala sobre elas, faz parta do seu dia à dia, faz parte de todos os seus sentimentos, tudo vira uma metáfora e existem para exemplificar quem é. Flores são puras.